sábado, 22 de abril de 2017

Petrolina boêmia pela dinastia dos seus bares sem fim


Escreveu, Marcelo Damasceno-Petrolina-PE


 Os anos 1970 em Petrolina começaram  em ritmo de copa do mundo, nenhum sinal visível de tevê e a farra continuada entre Pernambuco e Bahia sob o argumento de um tricampeonato do Brasil do futebol e da aguardente. Quem estava confortavelmente numa vida movida a dinheiro se dava ao luxo de assistir os jogos da canarinha na próxima cidade de Senhor do Bonfim alguns bons quilômetros depois de Juazeiro,  Bahia.  Petrolina saía pouco à noite, como até hoje, e agendava sua farra entre a noite da sexta-feira até sábado à noite. O petrolinense sempre foi muito  discreto, muito sisudo, e desconfiado em relação a farra. A cachaça era um encontro de bons amigos, em tribos  bem distribuídas  em pouca oferta de bares. Na Vila Mocó, Bar da Lua de noite e Oceano Bar anos depois durante o dia na avenida das Nações e todo ‘bom bico molhado’, num conteúdo de ‘taipa’ adiante,  o prato do tatu sem ‘IBAMA’ soletrava bar de ‘Zé baixinho’ que disputava apetite da classe média  com  outros  ‘tatus de Noé’ sem biodiversidade correta. No meio, reinava híbrido,  Bar de Expedito espetava os dois com boa cabidela  próximo chafariz da Ambiental de hoje.



Próximo ao calçadão Bahia, um endereço com tira-gosto, jogo, cachaça e hora para fechar. Os bares de Simplício, Yara e Botijinha para beber no balcão.  A lanchonete Oásis restringia tudo ao sabor de bons petiscos.  Mais adiante  o Restaurante Alvorada virava lanchonete boa pra comer e beber. Era o patriarcado do bom prato. Petrolina sempre teve receio de fica cheia de cana’ e pois acorda cedo até hoje para trabalhar. Na avenida Januário Alves, no acesso ao espetáculo do  futebol , hoje denominado Estádio Paulo Coelho, e com vaga limitada só para a classe média alta, a sexta com uísque a esvair-se no sábado reluzente de destacada frota de automóveis ‘do ano’ . Era BAR DOS AMIGOS privativo e barulhento. Atrás da Banca acomodando seus boêmios em paradoxo ao bairro Alto Cheiroso, duas boas bodegas com muita pinga para operários urbanos e  pescadores em viagem para Pedrinhas. Entre o Caldeirão da Raposa e Coliseu engatinhar no ‘oitão’  do delegado Pedrinho Valério,  uma confraria só para homens,  o bar de ‘Amadeu”. Gente do futebol e do pequeno comércio  num endereço que anos depois foi  dominado pelo bar Coqueiral. A avenida Guararapes, hoje em caráter comercial da boa roupa e sofisticado calçado, reinavam soberanos e com o hegemônico,  desejada por unanimidade, os bares Brasileirinho e Mascote, academia da qualificação de  garçons e aprendizes da pia com prato para lavar e muito copo arrotando cerveja. Desse endereço espremido numa calçada contígua ao soberano e histórico  PONTO CHIQUE,  mesas ofertas a todos os boêmios da noite em sua ressaca sincronizada e pouca paciência para “biriteiro” chato. E liso. Todo o público dos clubes noturnos que  engatinharam a excelente  Chucalho’s e depois o Trevo  sob a batuta de Euclides e o braço forte de dona Nina dando cartão vermelho  aos idiotas da valentia inútil. E com suspensão  sentenciada  com longo ou curto período de suspensão para a balada. Corriam os anos 1980 e sua boemia sob a coreografia da curtição agenda na IGLU e orla um. Recanto do Jacó e Primeira Estação  azeitavam a adrenalina e os hormônios . Quem falava grosso mesmo  por ali eram,  Jacó e Jorjão Modesto. E mais ninguém. Só o músico da noite. O proletariado reinava na avenida Souza Filho com muita gente, uma multidão de mulheres e homens com sabor de seresta e noite casamenteira. O Bambuzinho é referência de tudo na boca e endereço de Petrolina com certeza e com cerveja. Até hoje. O Bambuzinho é a vitrine possível do presente e passado saudoso. Gosto Bambuzinho de dia e de noite. Mesa soberana dos assalariados e sua incontida alegria de viver muito.

 A noite avançava maliciosa e prometendo namoro e até algo mais que fosse desejo de macho com fêmea. Trevo aqui. Casarão em Juazeiro, Bahia. A oferta erótica em boates suspirava no bairro ‘Piranga’. Era a porta da lascívia para casado safado e solteiro feio. Era o pecado rumo à cumplicidade com  Pousada do Sol e um bom ‘pecado’ a dois. Movimento denso e com a hegemonia de solteirões da classe média juntando-se aos bem casados com hora marcada para voltar pra casa. Mais adiante, o prato cobiçado de muita carne  no rude e acalorado atendimento de Zé Rocha a profetizar os dias vindouros e que hoje configuram o “Bodódromo” na Areia Branca. O Bode com gosto de carneiro mudou de endereço e de preço. O que reunia petrolinenses de origem franciscana, sertaneja transformou-se em clientela cosmopolita e orientação  do empreendimento impessoal e pretensão econômica com cartilha do SEBRAE. Zé Rocha reinava incólume, gourmet entre a panela e mesas morrendo de fome com Pitú e sarapatel sem menu de porra nenhuma. E por isso, o almoço era um ‘gordinho gostoso’ e uma caderneta para freguês da cara de pau. Petrolina com tira-gosto e com cachaça e sua qualificada hospitalidade bem maior que  fóruns da gastronomia discutidos entre tecnocratas capitais. Praça da alimentação no meio do mundo e da Areia Branca.

                  

Petrolina,  PE, 22 de abril de 2017

Marcelo Damasceno é jornalista
e petrolinense

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